"...Quando a gente ouve uma história que nos
comove, ela entra dentro da gente, faz a gente rir, faz a gente chorar, faz a
gente amar, entra dentro da gente e se aloja no coração.” (Rubem Alves)
É mesmo tudo o que sentimos ao ouvir a fantástica
história de Manuel Francisco Contez e seu filho Marco Aurélio Contez. Com 26
anos, Marco Aurélio se formou em jornalismo. Não parece nada demais, não é
mesmo? Pois é, mas alguns detalhes dessa história mostram o quanto ela é,
realmente, incrível.
Manuel Francisco Contez e seu filho Marco Aurélio
Contez
Foto de Marcelo Justo/Folhapress
Marco Aurélio, por conta de uma paralisia cerebral,
tem braços, mãos e pernas atrofiados,
fala com dificuldade e precisa de recursos específicos, como cadeira de rodas,
programa especial de computador, para viver o seu cotidiano com alguma
autonomia.
As funções do nosso corpo são comandadas pelo nosso
cérebro. Cada área do nosso cérebro é responsável por uma determinada função,
como os movimentos dos braços e das pernas, a visão, a audição e a
inteligência. Na paralisia cerebral (PC) há
afecções do sistema nervoso central (SNC) da infância que não são
progressivas mas provocam distúrbios da motricidade. Tais desordens podem
apresentar alterações que variam desde leve incoordenacão dos movimentos ou uma
maneira diferente para andar até inabilidade para segurar um objeto, falar ou
deglutir.
Quando há
envolvimento dos braços, das pernas, tronco e cabeça (envolvimento total) têm
tetraplegia espástica e são mais dependentes da ajuda de outras pessoas para a
alimentação, higiene e locomoção. Parece que esse é o caso e Marco Aurélio, que
por sequelas severas da paralisia cerebral precisou sempre da ajuda de seu pai
para tomar banho, pentear os cabelos, entre outras coisas. Mas Marco Aurélio é
guerreiro e pode sempre contar com a ajuda do pai. Desse modo, lutou e
conseguiu realizar seu sonho de se formar jornalista. Para tanto, o Sr. Manuel
Condez não apenas deu banho, penteou os cabelos e carregou Marco no colo até o seu automóvel e o levou para a faculdade de jornalismo, mas também assistiu a todas as aulas,
anotou as matérias dadas pelos professores, leu as provas, escrevendo no papel
as respostas que Marco falava em seu ouvido. Foi mediador, motorista do grupo
de trabalho e também o assessor em entrevistas e reportagens.
Marco desmitificou um grande estigma existente na
paralisia cerebral: a de que em todos os casos as pessoas são acometidas de
déficit cognitivo. Marco tem pleno domínio de seu intelecto, e na avaliação dos
colegas e professores da sua turma, foi um dos melhores alunos.
Marco
Aurélio formou-se Jornalista na Universidade São Judas, em São Paulo, e como
não poderia deixar de ser, Manuel foi o grande homenageado. Emocionado, foi
ovacionado pelos formandos e recebeu da direção da faculdade uma placa de honra
ao mérito.
O Sr. Manuel considera não ter feito nada demais.
“Qualquer pai que tem amor ao filho também se dedicaria. Era um desejo dele
fazer faculdade, e eu só ajudei a realizar" . Mas Marco reconhece e
valoriza: "Ele é uma extensão do meu corpo. Quando não posso fazer algo, ele
está sempre ali para me ajudar, nunca para me atrapalhar".