quarta-feira, 12 de março de 2008

Este post é um poema de Dom Helder Câmara, que considero sublime.

Olhar

Quando, depois de 10 ou 15 dias de chuva, começa uma estiagem que passa de uma semana, de duas, o nordestino olha o céu...

Olhar de inquietação, mais ainda de esperança e até de prece! E quando o céu está nublado, escuro, ameaçando chuva, quem é do Sul é capaz de achar o tempo feio: o nordestino acha o tempo bonito, porque, quem sabe, vai trazer a esperada chuva...

Quando uma mãe se vê diante do primeiro sorriso do filhinho, o olhar que lhe lança é quase um canto de alegria, de felicidade e de ação de graças...

Quem levanta o lenço que cobre o rosto muito querido de uma pessoa muito sua, rosto que só será visto de novo no céu, o olhar é de dor, de despedida dolorosa, de quem fica de coração partido...

Quando dois jovens estão sentindo o amor despertar entre eles, e se entreolham, o olhar canta, baila, dança!

O olhar que é uma delícia é o da criança que está descobrindo, vendo tudo como se nunca ninguém tivesse visto e exclama a cada instante: Olha lá! Olha lá![1]

Penso, que se conseguíssemos olhar com tolerância, com solidariedade, com esperança, com alegria, com amor, compreenderíamos melhor, aceitaríamos e respeitaríamos as diferenças do outro, enxergaríamos a riqueza que existe na diversidade. E daríamos graças!!!


[1] CAMARA, Helder. Um olhar sobre a cidade. São Paulo: Paulus, 1995.

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